domingo, 27 de janeiro de 2013

Quando aconteceu...

Um dia, sem prestar atenção ao clima, um homem viu o gelo derreter, intrigado sobre como isso poderia ser, já que jamais ocorrera tal fato onde vivia, desesperou-se a falar sobre como enlouquecera instantaneamente olhando uma pedra de gelo. Com o alarde as pessoas passaram a evitar o gelo, só podia ser algo aterrorizador que fez com que o pobre homem enlouquecesse.
O tempo foi passando, e com vendas nos olhos as pessoas se protegiam do mal gelado, viviam como se o mundo todo as estivesse testando, que por uma maldição terrível da tal pedra, todos foram assolados, e mais, para não se corromperem e enlouquecerem como os demais que ousaram olhar para as tais pedras, deveriam se abster da visão, já que essa os levaria a perdição eterna no mundo da loucura.
Sem poder enxergar, dia após dia os homens padeciam de fome, sua percepção para se localizar era falha por haverem "cegado" tão subitamente, não havia por ali ninguém que os pudesse guiar, os loucos eram os únicos a enxergar, no entanto, a maior parte deles havia trancafiado a si próprio nas cadeias, não queriam que seu mal súbito se tornasse um problema, conversavam apenas entre si, trocando suas próprias atrocidades apenas no seu próprio meio, julgavam, os que não se tornaram reclusos, aqueles que depois de muito pensarem sobre sua loucura haviam chegado a conclusão de que aquilo não passava de uma pedra de gelo, e que a luz que vinha do céu e feria sua pele alva com fogo havia feito o mesmo com a pedra, que vagarosamente se tornava água, a água que podiam beber, regar, banhar, a água que os sem visão abominavam, que vinha da devassidão, que tornava irmãos em cavaleiros trevosos, adoradores da causa que os mataria.
Passado o primeiro ano da praga mortal que assolara aquela civilização, os bons homens foram desfalecendo, um após o outro, morrendo em uma escala tão aterrorizadora que os filhos daqueles que morriam, os quais jamais haviam enxergado o mundo, passaram a ver os loucos como se fossem de uma raça diferente da sua, e por um pedido à distância, evitando contaminação, disseram que os desatinados partissem para a região onde tudo havia se iniciado, e então foram.
A partir de então três mundos passaram a existir: o mundo dos sem visão, que decidiram que tudo aquilo que se distanciava de sua realidade poderia enlouquecê-los e os fazer padecer como os que um dia se arriscaram diante da novidade; o mundo dos insanos, que se criam loucos por haverem olhado para aquilo que um dia julgaram impossível e se excluíam em sua antiga percepção anulando sua própria visão para que não pensassem mal a seu respeito; e o mundo dos que viam, dos homens os quais à percepção alheia haviam sido amaldiçoados, cuja visão permanecia intacta e desvalorizada pelos que se acreditavam sábios.

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